Bariloche

QUANDO (ALGUNS) JOVENS TÊM RAZÃO

Clichês se tornaram clichês, provavelmente, por um bom motivo. Alguém viu algo de maravilhoso por ali, a mensagem se espalhou e logo tal lugar passou, irremediavelmente, a compor o itinerário de muitos curiosos. Não dá para culpá-los.

Na década de 90 e até parte dos anos 2 mil, a dúvida comum entre muitos estudantes do terceiro ano era a difícil escolha entre excursões para Porto Seguro, na Bahia, ou uma pequena cidade perdida em algum lugar da Patagônia. Quando a oportunidade de viajar para outro país superava o combo calor, festa da espuma e axé, o resultado era a condição volátil de adolescentes apostando corridas em centros de esqui e uma presumida liberdade longe de casa para pôr em prática todo o mau comportamento reprimido. Nessa mesma época a possibilidade de ver um pouco de neve – algo que não temos por aqui – também colaborou muito e arrastou diversas outras faixas etárias brazucas através dos aeroportos argentinos. Essa debandada “hablando em portunhol” terminou por rebatizar esse destino como Brasiloche.

Mas os tempos mudaram (os brasileiros se espalharam) e hoje esse local é capitaneado por argentinos que esperam fugir da loucura de Buenos Aires para uma pausa e, quem sabe, até pegar um comedido bronzeado durante os meses mais quentes. O que se esconde por trás dessa região de lagos e montanhas é, certamente, a excelente oportunidade para aliviar a cabeça, diminuir o ritmo e confortar o coração com uma bela cerveja artesanal translúcida na luz de um fim de tarde (você sabe do que estamos falando). Tamanha beleza, esse cartão postal chegou até a ganhar o coração de pedra da encarnação do mal, já que lendas locais cultivam a possibilidade de nazistas – que por um crime do destino não compareceram ao julgamento de Nuremberg – terem terminado seus dias tomando banhos de sol em remotas ilhas espalhadas pelo lago Nahuel Huapi.

Mas engana-se quem acha que Bariloche é apenas um sinônimo de sossego e rusticidade.

Apenas de simbolizar um descanso para a mente dos portenhos e ser de fato um refúgio calmo e paradisíaco fincado nos pés da Cordilheira dos Andes, essa é uma região onde reina o perfeito equilíbrio do espírito aventureiro e boêmio – o que equivale a gastar todas suas energias entre trilhas e lagos durante o dia e recuperarlas durante a noite pendurado no balcão tomando algumas cervejas. Chinelos, sono profundo ou outras referências do que se imagina de um verão tranquilo? Não. Aqui o ciclo de vida é outro, mais próximo do espírito adolescente rebelde que proclama “você vive uma vez só”.

Trekking cruzando montanhas? Sim! Dormir um refúgio? Sim! Rafting? Claro! Mergulho em lagunas quase congeladas? Pode ter certeza. Dentre picos nevados, glaciares, água cristalina, clima de cidade pequena e infinitas possibilidades de coisas legais para se fazer, a verdadeira promessa dessa região é aproveitar um verão distante do qual você está acostumado, mas com a mesma intensidade, onde os dias parecem ser infinitos.

Agora, se você acha que a fusão natureza/aventura não é o suficiente para Bariloche prevalecer como seu próximo destino, saiba que na verdade essa é uma viagem open bar com trilhas incluídas. Logo, se existe algo que supera as belezas naturais são belezas naturais vistas após um longo gole de boa cerveja – o que, a julgar pela concentração da produção de cerveja local, é promessa de uma alma satisfeita. Poucas invenções foram tão certeiras quanto a comunhão entre água, malte e lúpulo. A união de ingredientes tão comuns, somadas a outras coisas simples da vida como a vista de um lago cercado por montanhas em um dia ensolarado durante as férias com amigos deveria, obrigatoriamente, listar nas resoluções da ONU como um dos grandes caminhos para a paz.

Bariloche, da natureza à qualidade etílica, é tudo o que você já ouviu falar. Só que dessa vez será ainda mais legal. Porque é você quem vai.